quarta-feira, novembro 18, 2015

A hora da verdade para o ISIS e a Síria

Artigo de Rita do Val*

Os ataques do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS – sigla do inglês Islamic State of Iraq and Syria), feitos quase simultaneamente em Beirute, no Líbano, e Paris, na França, poucos dias após a possível derrubada de um avião comercial russo, não devem ser analisados como ações isoladas desse grupo. É uma intencional demonstração de força contra inimigos poderosos, que se opõem às suas milícias em diferentes frentes e bandeiras.

Os franceses combatem o Estado Islâmico com bombardeios aéreos na Síria, mas, como seus aliados do Ocidente, também é contra o ditador desse país; os russos apoiam o regime de Damasco e, por conta disso, entraram com mais determinação no combate ao ISIS; e o Hesbollah, organizada milícia e força política libanesa xiita, vítima dos ataques em Beirute, está se preparando para, ao lado de tropas iranianas, combater o Estado Islâmico (que é sunita) na Síria, em apoio ao regime. Está estabelecida, assim, a ligação entre os três atentados, que mataram inocentes e revelaram o lado mais cruel do terrorismo internacional.

Resta saber se os três atentados terroristas tiveram a pretensão apenas de demonstrar força e impor medo aos inimigos ou se foram atos desesperados do Estado Islâmico, ante o crescimento de seus opositores. Até quando, por mais organizado, rico e militarmente eficaz que seja, esse grupo poderá resistir a inimigos poderosos como a Rússia, a França e todos os aliados ocidentais e, agora, o Hesbollah? Este, é preciso lembrar, conhece melhor sua cultura, seu modo de agir e também acredita na “guerra em nome de Deus”.

Pode-se supor um cenário de intensificação do conflito na Síria, com fogo mais concentrado no ISIS. E, caso este seja vencido, os seus inimigos comuns precisarão de uma posição de consenso quanto ao regime do atual ditador. Caso não haja esse entendimento, os conflitos persistirão.

Por outro lado, o que é o tão temido Estado Islâmico, que parece lutar contra tudo e contra todos? É uma dissidência da Al-Qaeda nascida no Iraque. Abu Bakr al-Baghdadi, seu líder, se autoproclama Califa (título de soberano muçulmano). O ISIS, constituído por radicais sunitas, dentre os quais ex-generais de Saddam Houssein, o ex-ditador iraquiano deposto pelos Estados Unidos, autodenomina-se “Estado” porque autoproclamou a existência de um califado, cujo território abrange parte da Síria e parte do Iraque.

Hoje, o grupo já domina numerosas cidades no Iraque. Seus combatentes são guerreiros habilidosos, praticamente invictos em combate em campo aberto e cidades. O mais preocupante é que tem conseguido arregimentar jovens até mesmo no Ocidente, como alguns possíveis participantes dos ataques em Paris. Na Síria, luta contra o regime de Damasco e contra as demais milícias que se opõem ao ditador Assad.

O ISIS também é muito forte na propaganda. Numa região onde os jornalistas profissionais têm tráfego cada vez menor, suas páginas em redes sociais, em especial o Facebook e o Twitter, têm grande peso na comunicação regional e servem para comunicados ao mundo, como a reivindicação dos recentes atentados. Economicamente, o Estado Islâmico já detém o controle e a gestão de poços de petróleo, sua maior fonte de renda. Em tempo: quem compra o seu óleo?

E por que as empresas responsáveis não bloqueiam suas contas nas mídias sociais? Respostas a essas perguntas são pertinentes, pois cortar a fonte de dinheiro e a comunicação seria medida muito útil para reduzir a capacidade de resistência do grupo. É provável que tais responsabilidades sejam mais questionadas doravante, pois os fatos indicam ter chegado o momento decisivo no enfrentamento do ISIS e na guerra civil síria. É a hora da verdade!  

*Rita do Val é coordenadora do curso de Relações Internacionais na Faculdade Santa Marcelina (FASM).