Entrevista com Nelson Abrahim Fraiji,
diretor-presidente da Fundação Hemoam (Fundação Hospitalar de Hematologia e
Hemoterapia do Amazonas)
No dia 10 de outubro de 2014, o
diretor-presidente da Fundação de Hemoam, Nelson Abrahim Fraiji, foi reeleito ao
cargo em disputa acirrada, vendendo o pleito com 57% dos 446 votos. Fraiji entrou
na disputa com o slogan “O Trabalho Não Pode Parar”, e de fato não parou. Ele
apresentou o Relatório de Gestão 2011-2014, onde presta contas das ações e
projetos implementos em prol do atendimento irrestrito aos pacientes.
Com um
orçamento na ordem de R$ 80 milhões, Fraiji tem a missão de administrar o ano
de 2015. Sua gestão de quatro anos termina em 2018. A Fundação de Hematologia e
Hemoterapia do Amazonas - Hemoam é responsável pelos processos de captação,
coleta, tratamento e distribuição de sangue.
A instituição está vinculada à Susam
(Secretaria de Saúde do Governo do Estado do Amazonas), atua na capital e nas UCT’s
(Unidade de Coleta e Transfusão) no interior. Integra a rede nacional de
hemocentros e segue as diretrizes do Pró-Sangue (Programa Nacional do Sangue e
Hemoderivados) do Ministério da Saúde.
Durante visita de cortesia ao Jornal do
Commercio, Fraiji fala da criação da Fundação Sangue Nativo em apoio ao Hemoam
e a importância da divulgação do protocolo de tratamento dos pacientes com
leucemia que chega a 80% de cura, mas que o custo ainda é muito alto.
Jornal do Commercio- A Fundação Hemoam é referência na região Norte,
para essa notoriedade foi necessário ter um selo de qualidade?
Nelson Fraiji- Nós temos
Certificação ISO. Nós fomos o terceiro hemocentro do Brasil a ter certificação
e fomos a primeira instituição de saúde no Amazonas a ter certificação. Nós
temos certificação de qualidade desde o ano 2000. Então nós tentamos fazer uma
gestão com indicadores de qualidade, aviando o que fazemos, reduzindo custos. E
acredito que temos uma avaliação de qualidade de usuários.
JC- Atualmente o Hemoam conta com uma equipe de quantos profissionais?
Fraiji- O quadro é um problema,
porque nós temos estatutário que são em torno de trezentos, temos bolsistas que
é uma relação de trabalho instável –a pessoa não tem direitos trabalhistas- mas
que é uma força de trabalho importante, e temos esse regime especial
temporário, que é aquele que o Estado contrata celetista por dois anos. A somatória
desse conjunto dá quinhentas pessoas e esse partilhado esse pessoal todo para o
conjunto das três atividades.
JC- Qual foi o ponto de destaque da primeira gestão (2011-2014) que o
senhor esteve à frente da Fundação Hemoam?
Faiji- Nestes quatro anos ampliamos
o atendimento aos pacientes portadores de doenças do sangue na medida do
crescimento da demanda. Nosso compromisso sempre foi não deixar de atender
ninguém que busque o Hemoam, independentemente da nossa capacidade instalada.
JC- Sobre essa capacidade de atendimento, o Hemoam tem planos de uma
nova expansão contemplando também essas inovações tecnológicas?
Fraiji- Nós estamos construindo
um hospital no terreno do centro psiquiátrico, estamos construindo núcleos no
interior. Com uma política de assistência psiquiátrica mudou no país,
desativaram os centros psiquiátricos e esses centros estão sofrendo adaptações.
Nós estamos utilizando parte do terreno para construir um hospital com 15 mil
metros quadrados, são 150 leitos. E provavelmente o governo do Estado vai
implantar naquela área onde está o prédio do hospício atual, um CDI (Centro de
Diagnóstico por Imagem) em que ele centralizaria os diagnósticos de Raio X,
tomografia, ressonância, ultrassonografia.
JC- Como está essa relação com o Centro Psiquiátrico, uma vez que, já
existe um movimento antimanicomial?
Fraiji- Nós fizemos uma interação
com o pessoal do Centro Psiquiátrico e o hospital que nós vamos construir vai
haver uma enfermaria para tratamento de doenças psíquicas. Porque a política
atual integra o doente psiquiátrico aos hospitais gerais. Ele não é mais
tratado com segregação. Apesar de não ter relação direta com as atividades de
um hemocentro, mas quando nós negociamos a utilização dos espaços do antigo
hospício, houve esse compromisso. Porque o nosso hospital, que já está em
construção, é um hospital geral onde vai ter cirurgia, UTI (Unidade de
Tratamento Intensivo). Obviamente que o conjunto dos pacientes maior vai ser de
doenças do sangue e vai ser também o hospital dedicado ao tratamento de câncer
da criança, não só a leucemia, os cânceres infantis vão ser todos tratados por
nós.
JC- Esse era o projeto, do governo do estado, de requalificação da
Santa Casa de Misericórdia, que fica no Centro da cidade? Então houve mudança
no plano?
Fraiji- O Plano da Santa Casa, no
nosso entendimento, é uma ideia dado que a percepção que é importante ter um
centro dedicado ao tratamento de câncer de criança, só o hemocentro hoje já
trata 80% dos cânceres de criança. Porque 80% dos cânceres de criança são
leucemias, linfomas e neuroblastomas que nós tratamos. Então, óbvio, nós vamos
construir uma baita infraestrutura com todo os componentes de um tratamento
adequado de câncer de criança, agrega mais 20%. Basicamente vai se cumprir o
objetivo do governo nessa instituição.
JC- E o prédio da Santa Casa, como ficará? Qual a melhor destinação?
Fraiji- Eu acho que a Santa Casa
tem que ter outra destinação. Até porque, o que nós temos hoje do ponto de
vista da infraestrutura da Santa Casa a tecnologia de um hospital não é mesma
de cinquenta nos atrás. O piso é sofisticado, a ventilação é controlada, o ar é
purificado, há barreiras, fluxos determinados e aquele projeto da Santa Casa
não se adequa jamais a um hospital, particularmente, para quem quer tratar
câncer. Hoje o tratamento de câncer tem transplante, que tem toda uma
tecnologia que tem que ser ajustada para dar o melhor resultado ao tratamento e
não vais ser adaptando um prédio de dois séculos atrás para ser um hospital do
câncer. Eu acredito que o governo demonstre uma intenção, que é permitir o
tratamento centralizado de câncer em criança e vai ter isso conosco.
JC- Quais são as origens dos recursos para a excussão da obra de
construção desse Hospital Geral?
Fraiji- A história dos recursos
consta no relatório de atividades, que é anual, em que nós fizemos um
levantamento dos números dos quatro anos. O Hospital é uma necessidade nossa há
muitos anos e fomos procurar a bancada parlamentar para conseguir recursos. O
deputado Pauderney Avelino ainda não tinha identificado onde utilizar os R$ 16
milhões que cada parlamentar tem para emendar o orçamento e ele disse que ia
coloca-los para o Hemoam, e fomos atrás de cada um dos parlamentares até
conseguirmos o montante de R$ 41 milhões. O governo comprometeu-se com a parte
dele, algo em torno de R$ 18 milhões, e foi assim que chegamos aos R$ 60
milhões para iniciar a obra de construção do hemocentro.
JC- O senhor pode abordar um pouco mais o tratamento das leucemias na
infância?
Fraiji- Nós vemos muitas
sociedades organizadas no sul do país fazendo uma luta intensa para viabilizar
os serviços de tratamento de leucemia. A leucemia é uma doença fatal muitas
vezes, se não tratadas em tempo e as crianças, 801% delas com leucemia podem
ser curadas. E o tratamento da leucemia é caro, sofisticado e que requer uma
tecnologia em termos de infraestrutura, equipamentos, capacitação de pessoal e
uma equipe muito bem formada. O Hemoam participa de um protocolo de tratamento
tão sofisticado que são dezenas de medicamentos caríssimos, que são usados
quimioterápicos de várias maneiras durante dois anos. Nós levamos dois anos
para tratar uma criança com leucemia.
JC- Como funciona esse Protocolo de Tratamento Brasileiro? As empresas
incentivas pela Zona Franca de Manaus, podem ajudar de alguma forma?
Fraiji- Trata-se de um protocolo
de tratamento brasileiro que permite chegar próximos de 80% de cura, mas a
manutenção de uma criança par fazer esse tratamento, não é brincadeira e como
eu disse no início, muitas sociedades do Brasil se organizam –familiares,
amigos- para viabilizar recursos financeiros e custear o tratamento. E aqui em
Manaus, ninguém ouve ninguém falar sobra isto. As industrias do Distrito
Industrial não se manifestam, algumas vezes fizemos contatos. A sociedade mais
abastada pega seus filhos e vai embora para fora e esquece que tem outros
amazonenses. As crianças que vem do interior e não podem ficar dois anos aqui,
também por falta de recursos. Os indígenas, que são 200 mil no Amazonas, a esse
que é mais complicado ainda, porque a família não quer ficar tanto tempo longe.
Eu acredito que temos que despertar a sociedade um pouco mais de preocupação
com essa situação. Eu sempre tento, nessas oportunidades com a imprensa, voltar
a atenção para isso, porque nós falamos muita na transfusão, que é muito
interessante, mas a gente não leva essa preocupação para a sociedade.
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