domingo, julho 22, 2012

Está aberta a temporada de caça aos votos


Evangélicos na mira dos candidatos na CMM
Publicado em: Manaus, 21 e 22 de julho de 2012

Por Tanair Maria
Especial para o Jornal do Commércio

   Com a chegada do período eleitoral um quesito que vem sendo lembrado pelos veículos de comunicação, que pode definir o destino político da nação é a religião. Visto que a República Federativa do Brasil é um Estado laico, onde a discussão entre religiosidade e Estado não se encerra com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Um resquício dessa dicotomia está no texto do artigo 19 item I da Carta Magna – “estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes, relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público”.

Cautela com o apelo popular eleitoral
   Nelson Noronha é doutor em Filosofia pela Unicamp (Universidade de Campinas); participou do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia, projeto da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), foi cauteloso ao analisar a participação evangélica como força de voto eleitoral. “Nas eleições passadas os evangélicos mostraram grande peso”.
   Já é fato que a questão religiosa tem grande peso de voto nas eleições e mostra sua força nas urnas elegendo vereadores, deputados, senadores e também o ex-presidente Lula.
   Os lideres evangélicos, pastores ou apóstolos, tem o mérito de organizar as pessoas que estavam em situação de risco, como vício em drogas ou álcool; doentes físicos e mentais; desagregado familiar, e conseguiram ampara-las ao usar uma linguagem de apelo popular. “Esse segmento social decorre por conta da pobreza, da falta de informação, da má distribuição de renda, da falta de ensino e por consequência, a falta de conhecimento de causa política, são esses nichos aproveitados e explorados por líderes religiosos”, alerta o Noronha.

“Evangélicos fechados em dogmas limitam acesso ao conhecimento”

Risco político muito perigoso
   A população carente precisava de uma voz e foram ouvidos pelos líderes religiosos sejam evangélicos, católicos ou de outra ideologia. Por outro lado, falta-lhes projeto político para as cidades. Há limitação na questão familiar constitucional, são moralistas. Assim, perde-se a pluralidade, os políticos evangélicos não estão abertos para falar sobre outros dogmas ou comportamentos. Eles não dialogam com outros grupos, se fecham e ficam competindo com a Igreja Católica.
   Exemplos de religião e intolerância extrema que fecham as fronteiras de países como os árabes mulçumanos e os norte-americanos protestantes, que radicalizaram as disputas pela questão política-social, mas utilizaram a força religiosa para dominar a opinião pública interna e externa de seus respectivos territórios. “Os evangélicos se fecharam em dogmas. Na educação não permitem o acesso universal ao conhecimento. É um caminho muito perigoso para o exercício da democracia, onde a ignorância prevalece e a visão fica limitada. É um risco político muito perigoso”, alertou Nelson Noronha.

Sem ganho na política
   A frente parlamentar evangélica na Câmara Municipal de Manaus (CMM) está composta de oito representantes perfazendo 21,2% do total de 38 vereadores: Marcel Alexandre (PMDB), Luís Mitoso (PSD), Roberto Sabino (PRTB), Mário Bastos (PRP), Francisco da Jornada (PDT), Amauri Colares (PSC), Dr. Gomes (PSD) e Vitor Monteiro (PTN). Os evangélicos são apolíticos. A questão familiar é predominante na base política da bancada evangélica na CMM. “É o poder salvador do Senhor na vida da população”.
Foto: Divulgação
   O vereador Marcel Alexandre, é apóstolo da Igreja da Restauração, formado em Teologia, com especialização no Ministério Pastoral, ele faz o caminho inverso.  Está levando a política para dentro da igreja evangélica. “Os evangélicos são de tendência apolítica. É algo impressionante. Na verdade, os evangélicos continuam resistentes ao assunto política dentro das igrejas”, esclareceu.
   Mas, para o vereador a falta de informação e de educação política de qualidade dentro da igreja, precisa mudar. E enfatiza o discurso de que, “tudo é política, tudo é decidido no sentido da cidade. O indivíduo entra na igreja evangélica, ato que chamamos de conversão, fica implícito o “apoliticismo”, porque os evangélicos vivem apolíticos. Eu insisto em educação cidadã na igreja. Quero incluir nos capítulos das igrejas, nas escolas de líderes dominicais um capítulo de cidadania. Porque, por mais que não goste de política, será governado por político”, insistiu Marcel Alexandre.

Política do bom pastor que mostra as garras
   Na hora de objetivar o projeto da bancada evangélica na Câmara, o vereador Luis Mitoso (PSD), que é representante da Igreja Assembleia de Deus, citou o Plano Diretor e o Estatuto das Cidades, é preciso defender todo um arcabouço para que a cidade fique cada vez melhor. Dentro desse contexto, os evangélicos vão defender os espaços públicos a permanência das igrejas e dos espaços para mais igrejas. “O que se fala muito é que as igrejas estão avançando, e Graças a Deus por isso. Porque é melhor ter uma igreja do que um bar. É melhor ter uma igreja do que um prostíbulo. É melhor ter uma igreja do que algo que possa ser nocivo à sociedade e a cidade. Assim, entendo que estaremos dando uma contribuição para a sociedade”, discursou Luís Mitoso.
   Para quem está na margem da sociedade, os evangélicos estendem a mão para incluí-los. É vocação, está na natureza dos evangélicos. Foi comprovado por pesquisas que se há um bairro de aspecto violento e presença de drogas, quando implantadas as igrejas evangélicas a violência diminui. O conceito da vida na igreja substitui a vida degradada e modifica o cidadão, com base no respeito. Isso porque a religiosidade é muito forte nos brasileiros. Com a força massificadora da mídia fica fácil crer na salvação e aceitar a conversão e a doutrina evangélica, que cresce a cada ano.

“O pastor evangélico tem uma forte influencia na sociedade brasileira”.
   O vereador Mitoso falou como evangélico, cristão e político. “O interesse maior é para a cidade, nós representamos acima de tudo a cidade de Manaus o povo da minha cidade é que me elegeu. Eu estou ligado a uma instituição religiosa que profeta uma Fé, tem também logicamente dento do seu conceito de cidade uma defesa da família, da preservação da família. Isso nós não abrimos mão.” Ainda, ressalta a importância do pastor por estar à frente das congregações, das igrejas, é um misto de conselheiro de amigo, inclusive advoga as causas dos fiéis que chega a eles. Também são psicólogos porque enfrentam problemas de diversas áreas, principalmente a familiar, cuidando da família, das pessoas necessitadas de oração. “A figura do pastor é importantíssima para a sociedade, Porque é muito bom, não só para a igreja, mas para a sociedade como um todo”, enalteceu. A demonstração popular de Fé aconteceu durante a Marcha pra Jesus, quando mais de oitocentos fiéis participaram, o que corresponde a mais de um terço da população manauara. “Dizem que a representatividade dos evangélicos em Manaus é de 30% então nada mais justo do que ter essa representatividade na casa legislativa como a Câmara, a Assembleia Legislativa, a Câmara Federal”, reconheceu o parlamentar.

Doutrinação
   Defensor do crescimento popular evangélico, o vereador Roberto Sabino (PRTB), considera esse segmento benéfico para a sociedade, por ser um povo passivo e temente a Deus. “Como representante desse segmento, eu sou vereador de Manaus que querer o melhor para a cidade. Entendo que essas pessoas doutrinadas pelos ministros evangélicos são pessoas que trazem Paz para nossa sociedade. A nossa sociedade precisa andar no temor de Deus. O povo temente a Deus ajuda o governo na questão da segurança. Nas festas evangélicas com 200 ou 2.000 ou até 200.000 pessoas, não precisa de segurança, porque ali não tem esfaqueamento, não tem pauladas, não tem mortes, não tem agressões. É um povo pacato, um povo passivo, que ali está para respeitar o seu próximo. Esse segmento precisa crescer. Por isso, as casas legislativas precisam ter pessoas voltadas com essas convicções para preservar nas suas leis a família, o bem estar social do povo e entendemos que esse povo temente tem essa visão”, defendeu Sabino.

Perfil dos evangélicos no país
   Com base nos dados do Censo 2010, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 29/6, revelam que de 2000 até 2010 os evangélicos tem perfil jovem. Com uma faixa etária de 27 anos para os evangélicos declarados pentecostais e de 29 anos para os missionários. A maioria dos evangélicos declara ter cor parda (45,7%) e branca (44,6%).
   A parcela da população que se declarou evangélica passou de 15,4% para 22%. Maior parte da população brasileira segue católica. De acordo com o Censo, a proporção de católicos seguiu a tendência de redução observada nas duas décadas anteriores, embora permaneça majoritária. Em paralelo, consolidou-se o crescimento da população evangélica. A pesquisa indica também o aumento do total de espíritas, dos que se declararam sem religião.
   A comparação da distribuição de renda per capita domiciliar entre todas as religiões revelou que os evangélicos pentecostais são 63,7% da população que está na faixa de extrema pobreza até um salário mínimo, seguida de 59,2% dos declarados sem religião.

   Em Manaus, segundo dados da primeira pesquisa de intenção eleitoral divulgada em 17/7 pela rádio CBN/UP/DMP, entrevistou 1.257 manauaras eleitores que declararam devoção às religiões citadas na tabela:

 

RELIGIÃO
%
Católica
51,3
Evangélica
35,7
Espírita
1,3
Budista
0,2
Islamita
0,3
Judaica
0,2
Ateu
0,9
Umbandista
0,3
Outra religião
7,0
Não quis responder
2,8
Total
100,0

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