Quociente eleitoral
Regra pode ser negativa para a democracia
Por Tanair Maria
Jornal do Commercio, publicado em
13/9/2012
A regra do quociente eleitoral estabelecida atualmente pela Lei
n° 4.737, de 15 de julho de 1965, sugere modificações no Código Eleitoral. Ela
é a responsável por situações adversas apuradas durante o processo eleitoral.
No momento em que surgem candidatos inusitados, como o deputado federal
Titirica que em 2010, lançou sua candidatura por meio do PR (Partido da
República), utilizou bordões como "O que é que faz um deputado federal?
Na realidade, eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto", ou "Pior
do que tá não fica, vote Tiririca", assim tornou-se o deputado federal
eleito pelo estado de São Paulo com 1.348.295 (6,35%) dos votos válidos e
conseguiu arrastar (por causa de seus votos) outros tantos candidatos.
Exceções existem...
A crítica à regra
do quociente eleitoral surge em função destas exceções, quando um candidato
puxador de votos faz com que a coligação tenha direito a uma quantidade maior
de parlamentares para assumir o mandato. Como ocorreu com o ex-deputado federal
do PRONA (Partido da Reedificação da Ordem Nacional), Enéas Carneiro,
conhecido pelo bordão ‘Meu nome é Enéas’ no tempo eleitoral de dezessete
segundos, façanha eternizada pela ousadia de candidatar-se à presidência da
república em 1989. Treze anos depois, candidatou-se a deputado federal por São
Paulo, obtendo a maior votação da história brasileira com cerca de 1,5 milhão
de votos, recorde que permanece até hoje. Seu partido obteve votos suficientes
para, através do sistema proporcional, eleger mais cinco deputados federais
(mesmo com votações inexpressivas, abaixo dos mil votos). Este episódio ficou
marcado pela polêmica de alguns destes candidatos teriam mudado de colégio eleitoral
de forma ilegal apenas para serem eleitos pelo princípio da proporcionalidade,
confiando nos votos conferidos ao partido através dele, Enéas.
Foto: Arquivo/Câmara Federal |
O candidato do bordão: "Meu
nome é Enéas" foi um dos fenômenos eleitorais mais fortes do País e com
sua votação histórica conseguiu eleger candidatos inexpressivos
...mas
podem ser evitadas
Hoje
em dia, embora sejam apenas exceções, a regra está favorecendo determinado
partido ou coligação pelo quantitativo de votos. As opiniões dividem-se, para o
deputado estadual do PT (Partido dos Trabalhadores), José Ricardo Wendling a
solução está em implantar no país uma votação desvinculada do candidato
(pessoa), podendo até votar na pessoa, mas não necessariamente essa pessoa assuma
o pleito. Ele explica que os eleitores estão acostumados com a realidade de
outros países, no caso do sistema parlamentarista, a vantagem é formar um
governo por pessoas indicadas pelo partido, regra que poderia ser discutida no
Brasil, no caso a reforma política.
A
diferença está na quantidade de partidos, em outros países costumam ser dois
partidos políticos legítimos, contra 30 partidos espalhados no território
nacional, dos quais seis não possuem diretórios constituídos. José Ricardo que
em 2010 venceu a eleição para deputado estadual, conquistando mais de 38,3 mil
votos, defende ser necessário fortalecer o partido político, caso contrário
essa regra continua alimentando a ideia do salvador da pátria, como se um
determinado vereador ou um governante fosse resolver as coisas sozinho, e dessa
forma não funciona, as decisões são tomadas de forma democrática através dos
vereados na Câmara Municipal, por exemplo.
“Depois de eleito você pode ter sido o mais votado, mas vai
estar junto com aquele de poucos votos, porque as decisões são colegiadas, é
da maioria, na Câmara são 38 vereadores, não são individuais, um não vai
resolver problemas, então há necessidade de fortalecer as instituições. Os
partidos políticos são instituições federativas prevista na constituição
brasileira e tem que ser valorizado, hoje está banalizado com a criação de
partidos que não tem expressão nenhuma, não tem ideologia e acaba servindo
apenas como barganha, como instrumento de negócios; alguém coloca o partido
debaixo do braço e vai negociar com fulano e beltrano, e aí vai mudando de
mãos.” José Ricardo ainda afirma que para defender a valorização do partido é
preciso que nas eleições para vereador e deputado o partido vá sozinho, sem
coligação, com a finalidade de verificar a performance e o potencial nacional
de cada partido.“Cada partido tem que lançar uma chapa própria, com suas
propostas e suas ideias e valer o quociente eleitoral por partido, assim você
poderá medir o potencial de cada um nas urnas”.
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