segunda-feira, agosto 06, 2012

Terminal da Matriz no Centro Histórico de Manaus


Centro liberado  

Tráfego volta em condições precárias

Secretarias e institutos estão no jogo de empurra, os políticos na defesa e a população vulnerável na linha de frente

Por Tanair Maria
Especial para o Jornal do Commércio, publicado hoje, A4

   Na madrugada de quarta-feira (1°), agentes da SMTU coordenaram os trabalhos de retorno do tráfego de ônibus no Terminal da Matriz, localizado no Centro Histórico de Manaus, após mais de 40 dias de interdição do local pela Prefeitura de Manaus a título de medida preventiva contra um possível acidente com as galerias dos ingleses, que foram atingidas pela cheia recorde deste ano. A liberação parcial traz à tona novas discussões sobre a precariedade em que se encontra o Centro Histórico de Manaus.
   A expectativa era grande para quem precisa do serviço de transporte público, uma vez que o local é ponto estratégico para várias rotas da cidade. Para os primeiros dias, o fluxo de ônibus estava normal e com a novidade, só os ônibus urbanos vão trafegar no Terminal da Matriz. Os microônibus executivos continuam a dobrar na rua 10 de julho, e os demais veículos passam pela rua José Clemente.
   Mas, a frustração estampada no semblante das pessoas superou a expectativa de todos diante do descaso das autoridades gestoras do município, ao liberar o tráfego dos ônibus urbanos nas mesmas condições à época da interdição: com as pistas de rolagem esburacadas, paradas sem os abrigos cobertos (retirados para ser revitalizados), falta de sinalização, falta de identificação das rotas, lixo acumulado nas vias públicas, um descaso com a população.

   O Jornal do Commércio acompanhou a operação urbana, entrevistou algumas pessoas que (há anos) convivem com esta situação e traz informações dos órgãos públicos competentes. Segundo a Seminf (Secretaria Municipal de Infraestrutura), ainda há vias para serem liberadas nos próximos dias. “A Seminf só está responsável pela recuperação das vias que estavam interditadas, que estão previstas para serem recuperadas na próxima semana. Quanto às outras obras citadas, informamos que as mesmas não são de responsabilidade da Seminf.”
Para o vereador Joaquim Lucena (PSB), líder do partido e da oposição na CMM, a liberação parcial do Centro de Manaus deveria ter sido feita com mais planejamento. “O poder público tinha que retornar o trafego, mas com o mínimo de infraestrutura, o mínimo de condição. Eu acho que é um descaso com a população e com o transporte que for entrar lá. Eu considero um descaso o quê a prefeitura fez. Eu acho que deveria antes de abrir, e teve tempo para isso, dar a manutenção que não foi dada.”
   Já o líder do prefeito na CMM, vereador Leonel Feitoza, a liberação ocorreu porque o Centro precisava deste procedimento. “O tráfego de ônibus precisava ser normalizado no centro da cidade. Sobre o risco das pistas cederem, ainda não existe laudo sobre aquela área onde estão as galerias dos ingleses, porque o nível do rio continua alto, em torno de 28m, precisa baixar mais um pouco para ser feita as análises técnicas segundo informações da CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), esclarecido durante o ciclo de palestras realizado no plenário da Câmara, na semana passada.”
Vereador defende a liberação parcial do tráfego no Centro
Buracos, caos no Transito e camelôs descontentes
Outro órgão da Prefeitura Municipal envolvido no impasse, o Implurb (Instituto Municipal de Ordem Social e Planejamento Urbano) declarou que o que está em jogo é a revitalização do Centro Histórico. 
O objetivo é dar condição digna de trabalho aos 1.000 camelôs cadastrados e revitalizar o Centro da cidade, para isso o município apresentou ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) projeto sugerindo a implantação do camelódromo na Praça Tenreiro Aranha”, explicou o órgão por meio de Nota oficial ao JC.
   O projeto citado pelo Implurb também aumentaria o número de vagas de estacionamentos públicos e desafogaria o tráfego nas principais ruas do entorno da Matriz, segundo o próprio órgão. No entanto, o projeto foi indeferido pelo Iphan, através do ofício 390/2012, datado de 27 de julho último.
   Pelo lado da SMTU (Superintendência Municipal de Transportes Urbanos) o processo de recapeamento já começou. De acordo com o Superintendente Interino, Antonio Norte Filho, primeiramente a equipe fará o preparo do solo,
passando o maquinário para retirar as crateras que se formaram em torno do
terminal para depois receber o asfalto. “Os trabalhos serão feitos durante a madrugada”, garante.
  
O outro lado
Polêmicas e impasses à parte, enquanto o problema não é totalmente resolvido pelas autoridades, a população é quem sofre. O Jornal do Commercio foi às ruas para saber a opinião das pessoas. A usuária do sistema de transporte coletivo, Renata Cristina Bandeira falou sobre os ônibus e o terminal.  “Graças a Deus que voltou ao normal. Aqui estava tudo abandonado, agora só falta recolocaram as coberturas. Nos manifestamos pela saída dos executivos (ônibus). Agora sim, gostei, é assim que tem que ser, sem os executivos só com os de linha (ônibus urbano).”
   O vendedor ambulante Manuel dos Santos Bentes trabalha no Centro há 17 anos e comentou o impasse envolvendo o local. “Por um lado é bom e por outro é ruim (a liberação parcial do Centro). A parte boa é que diminui o fluxo de transito, não vai ter aquele engarrafamento muito grande. Era demais. De outra parte, é que as pessoas vão direto para seus destinos e diminui as vendas. Aqui para ficar bom precisa melhor muita coisa, toda a estrutura: o asfalto está cheio de buracos; eles tiraram a cobertura das paradas e não os recolocaram; os painéis de identificação também foram retirados e tem que colocar de novo, tudo isso e muito mais coisas.”
Um motorista de ônibus que preferiu manter o anonimato reclamou dos buracos.    “A pista está péssima. Nota zero. A frota (de ônibus) é nova e está acabando com tudo, não tem carro novo que aguente. Não adianta você botar carro novo se as pistas estão cheias de buracos. Os quebra-molas estão todos fora de padrão e uma série de outras coisas. Está difícil.”

Camelôs indignados
O presidente do Sindicato dos Vendedores Ambulantes de Manaus, Raimundo Inácio Ferreira dos Santos declarou sua indignação com as negativas do Iphan em relação aos locais para transferência dos vendedores ambulantes (camelôs) no Centro. “Onde é que está o direito do cidadão amazonense. O direito foi totalmente recusado pelas autoridades. Primeiro com a Prefeitura. Tentamos fazer um shopping provisório num local só por três anos. Nós estávamos deixando o local para irmos para o shopping definitivo e a justiça embargou por questão política. Não deixou construir. Tentamos construir por traz do Banco do Brasil, a prefeitura foi lá e desapropriou. O Iphan vem e tomba tudo, pra não deixar construir. É um órgão que não tem respeito pela cidade de Manaus. São mais de 150 imóveis no centro histórico e não se vê nenhum restaurado pelo Iphan. Tentamos a praça Tenreiro Aranha. A prefeitura fez o projeto e o Iphan vem dizer que não pode? Será que o Iphan veio mesmo para revitalizar a cidade? Só está aí embargando tudo, não tem nenhum sentimento pela cidade de Manaus. Nós amamos a cidade de Manaus e queremos uma revitalização de verdade.”

   Até o fechamento dessa matéria, as obras e adequações citadas pelas assessorias de imprensa, não iniciaram.



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